3.21.2012

Restos



Calar a dor de um entendimento que se faz: erro.
Com tantos pontos, a língua muda a subjetividade do assunto;
Tento, em nexo surdo, confuso, aliviar um segredo que mudo em palavras.
Dói e fico cansada. 

Oh alma pequenina, boca que confessa sons digitados;
No olhar finito do desespero socorro, perco-me em ajuda,
Fadada à espera fria do tempo que tem pressa,
Eu, parte visível, corpo que se vê, fora. 

O que causa então pontos
No subjetivo os perdi  
As letrinhas mínimas se foram ou em vão
Erros de no espaço
Aqui ou contexto
Mude sua percepção

Muito tenho a compartilhar, mas me sinto, por sorte, ainda,
Mordaça, poeticamente falida. 

Cultura:


Cansaço O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa


Se dissesses o que só agora me transmites
Poderíamos ter procriado sonhos em casas de concreto
Mas preferiste sumir, fingir, bordar e tecer sozinha
Um sofrimento tão confuso como os sinos apáticos
Que cantavam belezas sem vida, vigor ou choque
No morro pálido que te condenou à solidão

Nada fizeste para atenuar o que partia de mim para ti
Numa corrente de correspondência dúbia e mal intencionada
Fazendo fracassar o laço das minhas tentativas
De expectativas e motivações manualmente transparentes

Perfurado pelas mil flechas de desprezo que lançaste
Tombei diante do Forte colossal que criaste ao teu redor
Em alusão a uma trégua desconfortável e desoladora

Como foi difícil reconhecer-te pedindo por esperança redobrada
Logo para mim, que outrora dei para ti toda a que possuía?
Sem saber que estavas extraordinariamente crua, frente e verso
Arrisquei-me e lancei-me em desgraças sentimentais
Como uma raiz subalimentada, desmembrada e dispensável 

Bernardo Almeida








Um comentário:

  1. Assimile, curta, rumine esse tempo..
    Se avalie, se deixe avaliar
    Pese os erros, enalteça os acertos
    Mas aprenda com ambos e entregue-se

    Pois a esperança renasce todos os dias num coração cheio de Deus...

    Abraço Xenti!

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