3.27.2012

Obra inacabada


Assim, tento-me permitir, sem barreiras,
reconstrução.
Re-fazendo a cada instante, com amor,
"presente".
Soluço pausas de medo,
tão frágil, barro,
 uma quase referência feminina de "Pedr_ (a)".
No quebrar que espalha, cacos,
junto-os para um re-começo,
em águas.

No meio que afundo,
duplo os sentidos quando olho pra mim,
mas lembro, que dentro,
me amam, também em lágrimas.
Quando caio,
choro pedaços,
na cosciência revelada que sou,
barro.





3.21.2012

Restos



Calar a dor de um entendimento que se faz: erro.
Com tantos pontos, a língua muda a subjetividade do assunto;
Tento, em nexo surdo, confuso, aliviar um segredo que mudo em palavras.
Dói e fico cansada. 

Oh alma pequenina, boca que confessa sons digitados;
No olhar finito do desespero socorro, perco-me em ajuda,
Fadada à espera fria do tempo que tem pressa,
Eu, parte visível, corpo que se vê, fora. 

O que causa então pontos
No subjetivo os perdi  
As letrinhas mínimas se foram ou em vão
Erros de no espaço
Aqui ou contexto
Mude sua percepção

Muito tenho a compartilhar, mas me sinto, por sorte, ainda,
Mordaça, poeticamente falida. 

Cultura:


Cansaço O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa


Se dissesses o que só agora me transmites
Poderíamos ter procriado sonhos em casas de concreto
Mas preferiste sumir, fingir, bordar e tecer sozinha
Um sofrimento tão confuso como os sinos apáticos
Que cantavam belezas sem vida, vigor ou choque
No morro pálido que te condenou à solidão

Nada fizeste para atenuar o que partia de mim para ti
Numa corrente de correspondência dúbia e mal intencionada
Fazendo fracassar o laço das minhas tentativas
De expectativas e motivações manualmente transparentes

Perfurado pelas mil flechas de desprezo que lançaste
Tombei diante do Forte colossal que criaste ao teu redor
Em alusão a uma trégua desconfortável e desoladora

Como foi difícil reconhecer-te pedindo por esperança redobrada
Logo para mim, que outrora dei para ti toda a que possuía?
Sem saber que estavas extraordinariamente crua, frente e verso
Arrisquei-me e lancei-me em desgraças sentimentais
Como uma raiz subalimentada, desmembrada e dispensável 

Bernardo Almeida








3.10.2012

Saudades


Sabe aquele amor que existe mas que vaga em outra dimensão?
Um amor que dista um espaço proporcional a saudade?
Sabe aquela sombra que te lembra o que já existiu?
Um alguém que está mas deixou de ser?
E aquele sentimento que ainda existe mas não se sabe por quanto tempo?
Momentos tão frágeis que qualquer lembrança te afasta?
Será que choro pelas dúvidas do ausente ou por alegria de frações presentes?
Sabe aquela dor que não passa?
Aquela vontade de viver com o invisível que já foi seu?
Um amor tão grande que fica mas está longe?

Aperta a vontade do abraço verdadeiro,
dos momentos em que o pra sempre e o infinito existiam,
dos sonhos que eram vividos e v í vidos,
dos olhares que se encontravam em amor refletido,
dos toques que davam segurança,
dos beijos entregues e descontraídos,
das brincadeiras de criança,
dos afagos e cheiros de ternura,
do tempo que hoje existe em lembranças.

Ter pela metade é sofrer por inteiro!
Querer dominar o tempo é desejar insensatez!
Forçar relação com os resquícios é acreditar na reencarnação!
Sim!
É esperar que volte para o mesmo corpo a alma que um dia, ali, habitou!
Choro o vazio de um alguém que ainda existe!
Porque em mim, ele, desde o sempre amarei!

Cultura

Existe gente que precisa da ausência para querer a presença. O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta. Nada de drama.

Arnaldo Jabor

Que você volte depressa Que você não se despeça Nunca mais do meu carinho E chore, se arrependa E pense muito Que é melhor se sofrer junto Que viver feliz sozinho Tomara Que a tristeza te convença Que a saudade não compensa E que a ausência não dá paz E o verdadeiro amor de quem se ama Tece a mesma antiga trama Que não se desfaz E a coisa mais divina Que há no mundo É viver cada segundo Como nunca mais...

Vinícius de Moraes




3.07.2012

Conselhos


 "Há certas horas em que só queremos a mão no ombro,
o abraço apertado ou mesmo estar ali, quietinho, ao lado...
sem nada dizer...
Alguém que ria de nossas piadas sem graça...
que ache nossas tristezas, as maiores do mundo...
que nos teça elogios sem fim...
E que apesar de todas essas mentiras uteis,
nos seja de uma sinceridade inquestionável...
Que nos mande calar a boca
ou nos evite um gesto impensado...
Alguém que nos possa dizer:
Acho que você está errado, mas estou ao seu lado...

Cultura

"Que a vida ensine que tão ou mais difícil do que ter razão, é saber tê-la.
Que o abraço abrace.
Que o perdão perdoe.
Que tudo vire verbo e verbe.
Verde, como a esperança.
Pois, do jeito que o mundo vai,
dá vontade de apagar e começar tudo de novo..."

Artur da Távola

"Se um homem soubesse o poder que seu abraço tem ao acolher uma mulher, a segurança que ela sente, todas as melhores coisas que passam em sua mente, o quanto ela se entrega. Se ele desconfiasse que naquele momento ele a tem por inteira, complesta, repleta de uma felicidade extrema. Será que ele se manteria ali por mais alguns segundos? Será que a pressa de um abraço seco se tornaria próximo do que uma mulher sente? Será que ele entenderia que essa coisa tão simples, tão gratuita, dentre muitas coisas no mundo é o que a gente mais precisa, é o que nos abriga, é o que dá paz ao nosso sono?

Cáh Morandi

3.06.2012

Vontade


Como eu gostaria, um dia, sei lá, 
musicar certas emoções;
Talvez eu conseguiria expressar,
alguns sentimentos iletrados,
em poéticas canções;
Ah, se a mim fosse dado esse talento, 
eu viveria de sons,
e para cada sensação: coleções;
Eu queria falar em versos cantados,
recitar ritimadas percepções;
Mas apenas sonetos parados e mudos
Minh'alma compõe.

As vezes me dá vontade de gritar, pleonasticamente alto, e ensurdecer alguém além de mim, porque tanto já berrei comigo, que hoje nem a mim escuto. Na dificuldade de falar, ou de subjulgar a compreensão alheia, gostaria de cantar, e quem sabe melodiar sentimentos agradáveis aos ouvidos sem medo da incoerência.
 Adimiro quem faz dessa arte seu porta-voz; Como eu gostaria de não ser musicalmente estéril e fazer do simples: canções.

Cultura

Cessa o teu canto!
Cessa, que, enquanto
O ouvi, ouvia
Uma outra voz
Com que vindo
Nos interstícios
Do brando encanto
Com que o teu canto
Vinha até nós.

Ouvi-te e ouvi-a
No mesmo tempo
E diferentes
Juntas cantar.
E a melodia
Que não havia.
Se agora a lembro,
Faz-me chorar. 


Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'