5.29.2013

Em desacordo


Vontade de escrever, não sei o quê, mas vontade...

Engraçado como as vezes a gente se perde na própria confusão. É como se nossas conexões fossem aleatórias e sem sentido, e nessa falta de nexo, há uma busca inconformada por explicações. Eu queria poder traduzir esse silêncio barulhento em minha cabeça, mas não consigo, em desespero, me ver.

As vezes eu sinto isso, na verdade, tenho mais pertubações do que convicções. Quando falo algo com veracidade, já me vejo contradição. E nessa de sempre pensar diferente, de repensar pensamentos em perspectivas, me vejo várias de uma mesma. 

Deve ser isso então... Pode ser que ultimamente tenho me atrevido às várias de Martinho, e portanto, à nenhuma de textos prontos. Quando escrevo, relato, confesso, e liberto o interior, mas HOJE, por ser essa uniformidade em desacordo, só sei que nada sei, de tantas vontades que sou. 

Compartilhando Cultura

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa

Nenhum comentário:

Postar um comentário