2.25.2013
Foi apenas uma curiosidade
- Oi?
- Olá?
- Desculpa mas, posso entrar? Olá?
E então a falta de uma resposta convidativa me fez caminhar com sentimentos de invasão. Eu realmente queria, na verdade precisava, conhecer aquele lugar. Fui invadindo aquela névoa escura, que pouco me permitia enxergar, e que por vezes me constituía surda, na eminência de finalmente encontrar.
O que eu estava procurando propriamente eu não sabia, pelo menos ainda, mas definitivamente fazia meus pensamentos refém de uma curiosidade sem fim.
- Olá? Olha, eu fui entrando porque vi a porta aberta e...
Pausei a frase que saia subitamente em forma de satisfação, já não sabia se estava mais louca por adentrar um lugar desconhecido ou por conversar sozinha em tom de explicação.
Não sabia mais o caminho de volta e isso me impulsionava a continuar, aquela escuridão, que até ecoava meus pensamentos, de repente me cegou! Uma luz forte, e demasiadamente branca, pôs fim a jornada, e naquela aflição por tentar abrir os olhos, finalmente no momento em que eu poderia ver alguma coisa, me fez sentir um desespero por saber o claro estando ainda no escuro. De olhos fechados, ainda tentando me acostumar com a claridade, percebi não estar só e me senti ironicamente a vontade.
Me forcei um silêncio por não me permitir outra loucura, porque se de fato eu não estivesse só, o outro louco se comunicaria. Algum tempo se passou, e no abrir dos olhos me enxerguei estranhamente refletida nas paredes daquela sala cheia de espelhos. Havia ali uma poltrona requintada no topo de um degrau (única elevação disponível) e de resto, eu mesma.
Fiquei na espera de alguma figura que merecesse sentar naquele lugar de destaque, mas o tempo só revelou minha frustração. Então, movida pelo sentimento de "pecado" porque na altura do campeonato eu já nem sabia mais a referência de certo ou errado, sentei naquele tão exuberante assento.
- HAHAHA
Gargalhei
- Vamos agora entrevistar ela: uma pessoa disponível para o conhecimento.Essa pessoa, que em insana razão se encontra racionalmente louca.
- HAHAHAHAHAHA
Racionalmente louca... Falei comigo mesma, já em tom baixo, como se eu estivesse comentando algo alheio a mim. De certa forma, o que eu tinha dito foi uma forma de me concentrar naquele absurdo sem perder o controle de minha consciência. Mas, eu já me percebia louca. Meus Deus, louca...
- Louca?
- É, só pode ser, porque para entrar aqui sem ser chamada...
- Mas eu queria conhecer esse universo...
- Universo? Em que mundo você vive? Não há universo minha querida, há percepções. Aquilo que você concebe, então é.
- Aff, então eu vim aqui para descobrir que nada sei? Para saber que o vazio e o abstrato é tudo o que eu preciso?
- Calma, calma, você parece confusa!
Meu Deus, que loucura é esse lugar.
Falei em pensamento para evitar a continuação do diálogo, ou monólogo, já nem sabia mais. Quase que em sensação de desmaio, fui deitando naquela poltrona, cansada e indisposta a raciocinar.
- Não mãe, hoje não vou não...
Falei de súbito ao acordar. Nossa, eu dormi? Será? Ou apenas entrei em estado de delírio? Bom, tudo o que eu sei agora é confuso, e tudo o que está embaralhado parece ser real. Ah, se eu pudesse nem ter entrado. Preciso sair daqui, esse lugar está matando minha consciência.
- Seu inconsciente domina quando seu raciocínio parece fugir do seu controle, "minha cara".
Disse uma voz suave, convidativa e pertinente.
- Oi?
Foi tudo o que consegui expressar. Naquele momento eu já não poderia discernir nem mesmo se era eu ou outra pessoa a falar.
- Você não está louca, você apenas invadiu sua própria mente, e aqui, tudo o que você faz gera reflexo, e o tudo que você não faz também.
- An? Como assim? HAHAHA
Soltei uma gargalhada em tom de descrédito e desconforto.
- Então eu entrei em minha mente? E por que ela está tão quieta? Por que ela não revela meus questionamentos? Por que não posso desfrutar dos conhecimentos guardados na memória? Por que...
- Minha jovem, se você existisse apenas pela existência mental, onde você e você mesma bastasse, tudo o que conhece como verdade, simplesmente não seria. É impossível um único órgão funcionar se a ele não existir demanda, e essa sala só está vazia e clara porque você se ausentou de seu mundo externo-real. Sem influência do que se percebe fora daqui, o aqui passa a não existir.
- Mas e você?
- Sou o seu inconsciente.
- E por que não me respondeu antes?
- Porque eu estava tentando achar a porta de entrada dessa loucura toda.
- Para você entrar eu preciso sair?
- Sim, a gente apenas coexiste enquanto você estiver viva, mas se aqui continuar, morrerá. Eu corri para esse encontro a fim de evitar tamanha tragédia, mas sua morte está me enfraquecendo. Vá antes que morramos juntas.
- Me desculpa, tudo bem então, não sabia o mal que eu estava causando a nós... Mas, por onde volto? Me perdi nesse lugar.
- Entre em um dos espelhos, se você tivesse tido a curiosidade de se perceber apenas olhando em um deles, veria o que sua mente vê! A saída e a resposta de todas as suas dúvidas, você no mundo!
E olhando para eu mesma, no reflexo daquela sala mental, sai de minha própria loucura.
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